Normalitas https://normalitas.blogfolha.uol.com.br Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis Sat, 04 Dec 2021 00:01:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por trás do Messianismo https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/08/06/por-tras-do-messianismo/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/08/06/por-tras-do-messianismo/#respond Fri, 06 Aug 2021 17:18:13 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Lionel-Messi-durante-amistoso-entre-Barcelona-e-Arsenal-agosto-de-2019-Josep-Lago-AFP-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=927 Enquanto choram na Espanha por conta da saída do Messi do Barcelona, anunciada nesta quinta-feira (5), eu choro aqui no meu sofazinho por uma separação.

Daquelas, sabe? Que deixam a cara inchada de choro e matam o amanhã. Ainda que até amanhã.

Mas voltando ao Messi.

Os espanhóis e, notadamente, os “culés” (torcedores do FC Barcelona) estão tristíssimos com a saída do ídolo, ainda sem novo destino certo.

O motivo principal seriam “obstáculos econômicos e estruturais”, embora outros desgastes ao longo dos últimos tempos, como o já famoso quase-adeus do burofax, também tenham cumprido seu papel. Tudo é louro do Messi, tudo é culpa do Messi, OJogadorMaisFodásticoDoMundo. São quase 18 anos de clube. Um longo casamento.

Joan Laporta, presidente atual do FC Barcelona, apareceu nas manchetes de hoje afirmando que “O Barça está acima do Messi, e não vamos hipotecá-lo por ninguém”.

Mas o povo chora. Bancas de jornal amanheceram com a estampa do argentino em todas as capas; na tevê, breves entrevistas com seres de todas as nacionalidades e idades nas ruas de Barcelona repetem o invariável “fica, Messi”, e súplicas semelhantes.

(me pergunto por que não me entrevistaram, pra que eu pudesse dizer: “que se dane. Alguém me dá um trocado do salário de US$ 126 milhões que ele recebeu em 2020? Tô precisando de um Maserati”. E: “Neymaaaaaaaar, eôÔô”, só pra dar uma balançadinha)

Um argentino que vive em Barcelona (e há muitos) choraminga no microfone: eu só estava aqui por causa do Messi! Pra onde ele for, eu vou! E decreta: o turismo em Barcelona sem o Messi já era!!

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As imagens de Messi-Messi-Messi nos bombardeiam em meio às transmissões dos jogos olímpicos. O canal espanhol mostra uma entrevista com o carateca nativo que levou prata nos jogos olímpicos (a espanhola Sandra Sánchez levou o ouro, batendo a favorita japonesa Kiyou Shimizu).

Suado, ele passa a mão no topete, olha de soslaio pra câmera, sabe que é gato. Vale pontos na hora de conseguir sponsors.

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É evidente que a galiña dos ovos de ouro dos esportes hype hoje em dia irremediavelmente passa pelo merchandising centrado em figuras de idolatria.

Especialistas em negócios e mercadotecnia do esporte estão agora mesmo analisando o impacto econômico que poderá ter a saída do Messi para o Barça. Não será pouco.

O FC Barcelona é considerado o segundo clube mais valioso do mundo, empatado com o Real Madrid. Estima-se o valor de cada uma dessas marcas espanholas em US$ 1,4 bilhão, só superadas pelo Manchester, o clube mais frapfrap do mundo, avaliado em US$ 1,7 bilhão.

Os dois principais patrocinadores do Barça, Nike e Rakuten, estão devidamente de cabelo em pé com a notícia da saída do craque. Tinham acordos e campanhas já acertadas com o FCB e Messi.

A marca do FC Barcelona, obviamente, amparava-se muito no merchandising associado ao jogador, assim como em contratos publicitários e direitos de transmissão televisiva. Perderá, seguramente.

Estima-se que a marca Messi rende pelo menos o dobro do que rende qualquer outro jogador do time. Mais de metade do que se vende em roupas e acessórios oficiais está associada com o jogador, e mais da metade da bilheteria de partidas está vinculada ao craque.

Uma única camiseta da Liga com o número 10 no site oficial do clube pode chegar a custar 160 euros (ou quase R$ 1.000).

Um dos clássicos passeios turísticos em Barcelona era ver uma partida no Camp Nou com o Messi. O argentino virou um dos ícones da cidade, junto com os dragões de Gaudí. Agora… no more. Ainda que até amanhã. Lágrimas, lágrimas.

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O adeus do capitán (por burofax) https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/08/26/o-adeus-do-capitan-por-burofax/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/08/26/o-adeus-do-capitan-por-burofax/#respond Wed, 26 Aug 2020 19:49:25 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Lionel-Messi-durante-amistoso-entre-Barcelona-e-Arsenal-agosto-de-2019-Josep-Lago-AFP-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=54

Sei lá, acho que sempre volta a acontecer.

Falo do movimento cíclico das glórias: um dia é de caça….

Vide um dos grandes tópicos da mídia espanhola dos últimos dias —o que ninguém diz, o que ninguém profere, mas que seria, que poderia ser, em letrinhas garrafais subliminares tipo soco-na-barbicha-triste-do-bode:

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** A-DECADÊNCIA-DO-BARÇA  **
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Tal agouro foi coroado ontem (25) pela cartada final de Messi, maior artilheiro da história do Barça, aka Fútbol Club Barcelona, que enviou um #burofax comunicando seu desejo de sair do clube.

Instantaneamente, o burofax, que ninguém até ontem ninguém sabia o que era, virou trendy topic internacional.


A notícia da possível saída de Messi vem apenas duas semanas depois da derrota histórica do clube na semifinal da Liga dos Campeões, quando o Barça tomou uma lambada de 8×2 dos bávaros do Bayern.

Logo depois da partida, sucederam-se aspas bombásticas. E vocês sabem: aspas bombásticas sempre rendem manchetes e tacam o turbo no alastramento da histeria coletiwwva.

Piqué declarou que sentia “vergonha”: “Tocamos fundo. É preciso renovar-se e, se eu tenho que sair para isso, sairei” (hmm).

Quique Setién, técnico do Barça há apenas oito meses e sabe-se lá por quantos menos, exercitou essa divina capacidade randômica que têm os futeboleiros de dizer Coisa Nenhuma: “o time se entregou, fizemos o que pudemos e o que o rival ´deixou´. À medida que avançou o jogo, nos vimos superados”.

E os comentaristas, esses sádicos serelepes: “Baaaño descomunal” (numa tradução livre, ´goleada´, ´sofrimento´, ´humilhação´, ´desgracêra´, ‘o horror, o horror’). “Demolidor: o Barcelona levou cinco gols no encontro da Copa Europa pela primeira vez em sua história” (nota: isso foi dito lá pelo minuto 71 da partida, porque o que tá ruim sempre pode piorar).

Menos de 24 horas depois do burofax de Messi, já estamos vendo reações populares sob o clamor #MessiQuedate (Tipo ¨Fica Messi¨), #MessiSeVa e #MessiSiBartoNo, pedindo a saída do presidente do Barça, Josep María Bartomeu.

A próxima grande manifestação popular está marcada para este domingo 30 em Barcelona. ¨Sobretudo, respeitemos as medidas de segurança indicadas pelo governo¨, avisa o grupo @TsunamiCuler, responsável pela convocatória.

Infelizmente, não é o que se vê nas manifestações impromptu que estão começando a acontecer na cidade:

 

FIM DE RELACIONAMENTO

¨Não contemplamos nenhuma saída contratual. Queremos que [ele] fique¨, declarou hoje o secretário técnico do clube, Ramon Planes, no que vem sendo interpretado como um discreto prenúncio de pé-de-guerra. “Pensamos no futuro do Barça com Messi. Nossa ideia é construir um time em torno do melhor jogador do mundo”, completou.

Aixx, que sensação ruim de fim de relacionamento, quando uma das partes envolvidas ainda tá se agarrando à última folhinha da goiabeira do precipício.

 

 

Eu não entendo de futebol, e nem é minha intenção aqui. Confesso, pra desagrado de muitos, que até tenho saudade de quando o Neymar jogava no Barça.

Naquela longínqua era, eu podia me juntar aos torcedores catalães —uma classe fanática de caráter, digamos, mais denso e meditativo que o Jeitinho Brasileiro de Torcer, e conhecidos como “culés” —gritando “Neymaaaar, eôô” nos bares.

E de brinde ainda provocava a ira dos compatriotas: “mas o Neymar, gente! se o Neymar é um inútil! Olha o cabelo dele! O jogo dele! A grana que ele ganha! E voltou com a Marquezine DE NOVO!!”. Ah, o amor, o circo e minha vã e lilliputiana perversidade sem profundidade.

Então, voltando, não entendo muito de bola, mas de repente a litania pré-luto do Adeus-Messi e o mistério do burofax estão por toda parte. Messi & The Burofax são pop. Tão impossível de ignorar quanto música da Anitta cantando “A Paradinha a-a-a”.

 

OK, MAS O QUE CAZZO É BUROFAX?

Eu, tão afeiçoada a minúcias dos universos paralelos, fui ler sobre o tal burofax. Ora, nada mais é do que um recurso oferecido pelos Correios espanhóis para envio de comunicados com potencial validez diante de um tribunal.

Algo parecido existe em todo o planeta, mas só aqui tem esse nome que lembra um fiote de fax com burocracia com mimeógrafo e código morse do capeta antológico.

 

Ou seja/ilustrando: Messi poderia ter enviado um e-mail ou um whatsapp dizendo “adeu” em catalão, mas nesse caso o Barça poderia argumentar que ele simplesmente pediu mais Coca-Cola Zero com zero cafeína durante os treinos.

Com o burofax, no entanto —que, ao contrário do que pensam quilos de internautas e alguns órgãos de imprensa internacionais, não é um fax, mas uma carta —, o comunicado adquire peso oficial e instantânea qualidade de cabeça-de-fórfi de frenesi mediático. Onze euros pra enviar, capacidade de abalar: não tem preço.

Segundo uma cláusula de seu contrato, Messi poderia optar por deixar unilateralmente o clube a cada final de temporada. Atualmente, dizem que sairia pagando a bagatela de 700 milhões de euros (ou 4,6 bilhões de reais, ai, meus saaaais, minha conta bancária vaziiiiaaaa).

Não está claro ainda para onde iria o jogador argentino, cujo nome completo, convenhamos, é fabuloso: Lionel Andrés Messi Cuccittini. Poderia ser o PSG, do compay Neymar, o Manchester, o Inter de Milão ou, quem sabe, o Pirassununguense. Talvez a gente até esqueça adiante desse campeão, atualmente considerado o melhor jogador da história do Barça e o que detém mais recordes no Guinness. Mas uma coisa é certa: o burofax a gente não vai esquecer mais.

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