Normalitas https://normalitas.blogfolha.uol.com.br Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis Sat, 04 Dec 2021 00:01:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com surto entre jovens, Espanha suspende obrigatoriedade da máscara nas ruas https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/06/25/com-surto-entre-jovens-espanha-suspende-obrigatoriedade-da-mascara-nas-ruas/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/06/25/com-surto-entre-jovens-espanha-suspende-obrigatoriedade-da-mascara-nas-ruas/#respond Fri, 25 Jun 2021 13:28:35 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/barcelona-festa-aftermath-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=821 A partir deste sábado 26, deixa de ser obrigatório o uso de máscara nas ruas na Espanha. A medida entrou em vigor em junho de 2020, há exatamente um ano. Ainda será preciso usá-la em ambientes fechados e aglomerações onde não seja possível manter a distância de 1,5 metros entre os circunstantes.

A medida chega num momento em que a vacinação nacional atinge recordes –dentro de alguns dias, o país receberá 6 milhões de doses, uma quantia inédita –e as mortes por Covid caem rotundamente (na Catalunha, nas últimas 24 horas, por exemplo, registrou-se um único falecimento).

Seria um sinal dos tempos, ou melhor, do fim da pandemia? Nononono, como diria a Amy CasadeVinho.

Talvez como artifício do destino pra nos lembrar que é preciso caminhar nessa vida pós-covídica com cuidado, um recente surto de coronavírus entre jovens espanhóis tem contrastado com as notícias ‘celebratórias’ vacinísticas.

Até agora, foram identificados cerca de 400 casos positivos e isoladas por volta de 2 mil pessoas. Tudo por causa de uma série de viagens de fim de curso (equivalente ao fim do Ensino Médio no Brasil) entre 12 e 20 de junho à ilha balear-turística de Mallorca, onde a molecada de umas 30 escolas espanholas botou para quebraire em festinhas.

Fila para teste PCR em clínica de Barcelona, junho de 2021 (Susana Bragatto / Folhapress)

Ou, como define a diretora geral de Saúde Pública da Comunidade de Madri, Elena Andradas, em “um programa de atividades, com festivais, bastante intenso”.

***

Eu ainda estou esperando a minha vacina. Passei por Covid há exatamente um ano, em junho de 2020, e me convocaram pra tomar uma dose no último dia 22 –mas não deu certo.

Nesse dia, cheguei no centro cívico adaptado pra campanha de vacinação e me encaminharam para um amplo salão decorado com cordões de frufrus brilhantes e um globo de espelhos pendendo do teto.

Só não parecia que ia rolar um baile da terceira idade porque, em lugar de banda e pista de dança, havia cadeiras dispostas segundo as distâncias mínimas de segurança e mesas onde enfermeiros manipulavam caixas de injeções.

Do lado oposto de onde sentei, seres humanos com caras de poucos amigos seguravam o braço e olhavam o vazio –é preciso estar sob vigilância por 15 minutos antes de ser liberado, pro caso de haver alguma reação à vacina.

Chega a minha vez. A enfermeira, sem me olhar na cara, pergunta se tive Covid. Me surpreendo. “Sim, faz mais de um ano”, atenuo. Ela finalmente ergue seus olhos verde-vítreos-ausentes-cansados pra me dizer: “então não pode tomar esta vacina da Janssen. Tem que ser a da Pfizer”.

Ora, se o sistema de saúde controla tudo de nossas vidas covídicas, por que não cruzou dados pra me dar a vacina correta? Yes, gastemos tempo e dinheiro público com uma “tontería” dessas, penso. Metade da fila diante de mim não pôde tomar a vacina pelo mesmo motivo.

Campanha de vacinação em Barcelona, junho de 2021. E meu pé (Susana Bragatto / Folhapress)

Segue-se outra fila, ao final da qual um recepcionista de olhar mais cansado ainda me diz: não posso marcar nova vacina pra você. Volta na segunda.

“Ah: e nem tente ligar pro posto de saúde”, acrescentou. “As linhas estão congestionadíssimas”.

Era véspera de feriado, San Juan, ponte. Barcelona começava a esvaziar-se, população viajando. Eu devolvo o olhar cansado pro recepcionista. Queria mandar sifudê, mas what’s the use.

Depois de um périplo adicional, consegui marcar minha dose da Pfizer para o próximo dia 2 de julho.

***

Deixar de usar a máscara na rua será esquisito. Não tô preparada pra esse momento e seguirei usando a dita porque soy muy loca, ou não.

E nem todos por aqui estão celebrando a medida. O presidente da região de Andaluzia, Juanma Moreno, deu voz à preocupação de alguns setores da sociedade espanhola, inclusive epidemiologistas, definindo a suspensão da obrigatoriedade da máscara nas vias públicas como “precipitada”, gerando “falsa sensação de segurança”.

“Nos preocupam os contágios e surtos recentes, porque há casos da variante Delta em Gibraltar, perto de Andaluzia”, disse. “Vimos como Portugal ou Israel (…) voltaram a impor o uso [da máscara]. Sigo recomendando que os cidadãos a utilizem”.

To be continued // Continuará (como se diz em terras españolas) // Continua………….

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
Nossos belos corpos de cada dia https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/03/26/nossos-belos-corpos-de-cada-dia/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/03/26/nossos-belos-corpos-de-cada-dia/#respond Fri, 26 Mar 2021 23:48:11 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/ruiz_andrea01-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=632 Outro dia, num desses friflannigans casuais pelo buraco negro da internerd, topei com uma capa da revista feminina Cosmopolitan dos anos 1980.

Tava lá, adornando a figura de uma mina de maiô lilás cavadón e topete do picapau: “As estrelas da TV ensinam seus segredos para se manter lindas e magras”.
E: “A forma ideal feminina –como você se compara? (confira nosso gráfico para descobrir)”.

Por todas as deusas! A.Forma.Ideal.Feminina.

Thanks god(ess) que estamos em 2021, O Ano Em Que Podemos Ser Livres Pra Ser O Que Quisermos.

Ou não?

No último ano, o longo confinamento por que passamos nós e, por consequência, nossos corpiños, sem dúvida alimentou a sanha do ser humanus por ver e ser visto na internet. Por se sentir melhor. Tamo/távamos em casa de bôuas (ou de malas) com níveis astronômicos de ansiedade, mesmo. Sozinhos. Carentes. Preocupados. Bora dar scroll numas fotinha pra esquecer os noticiários. Nenon?

Ao longo dos meses, pulularam tik tokers (tik tok, esse bagulho estrela do lockdown) e influencers de redes sociais posando com filtros e biquinhos e traseiros overempinados, ocasionalmente tacando alguma peça de homewear ou um bowl de salada no composê e legendando com algo tipo: “ao natural”, “vamos nos cuidar”, “ser feliz”, essas merdas.

Ao natural my ass, e com muita celulite.

O mundo retocado pseudoespontâneo das redes, evidentemente, pode levar o cidadão ou cidadã, mirim ou não, a se comparar. A virar voyeur de modelo de instagram. Ou, ato seguido, a sentir-se o cocô do cavalo do bandido por não ter 1804791 seguidores e 1074701804189 likes ou a bunda da Kardashian.

Por isso, o projeto Anatomia do Confinamento, da fotógrafa barcelonesa Andrea Ruiz, me chamou a atenção.

Ao longo de 2020, Ruiz juntou autorretratos de 61 mulheres. Realizados em diferentes lares entre França, Argentina e Espanha, coletam corpos, a maioria, desnudos; inteiros ou fragmentados. Sinceros.

Ação traz reação: esse é um dos protestos artísticos que GRAÇAS A LAS DIOSAS têm emergido para se contrapor à corrente elegíaca do PadrãoDeBeleza e da objetificação do corpo feminino. Outro projeto que adoro, de uma dupla de mãe e filha, na linha quesef***vamosernóisaindaquecusteumaslágrimas: @stylelikeu. Etc.

Nos instantâneos reunidos por Ruiz, não há retoque, não há manipulação mais do que o desejo individual de se mostrar sem amarras, sem moldes ou poses pré-fabricadas, sem medo de ser o que se é, sem a intermediação de outro olhar. Com estrias, pelos, “michelínes” (gíria espanhola pra pneuzinho), cicatrizes, barrigão nada encolhido. Ô, coisa difícil não (se) julgar, não?

“Sempre tive a inquietação por mostrar aquilo que não se vê, que escondemos ou que a sociedade invibiliza”, conta a fotógrafa, que também mantém uma conta no Instagram, @mespapaia, dedicada a “compartilhar informação sobre ginecologia autogestionada, menstruação consciente, ativismo feminista e temas relacionados”.

“Durante a quarentena, tinha claro que precisava fazer algo com todas essas mensagens negativas sobre o corpo que chegavam a nós, mulheres –mantenha a forma durante a quarentena, fique ‘guapa’ para quando acabe o confinamento etc”, exemplifica.

A partir daí, propôs o projeto nas redes e começaram a chegar voluntárias, muitas.

As fotos são todas sem rosto e anônimas. Não só para despersonificar as personagens e facilitar sua participação; também para que “qualquer mulher possa se identificar com os corpos e pessoas que veem nas imagens”, diz Ruiz.

Gosto de pensar nos sentimentos embebidos nas imagens. Nestas, eu vejo amor e aceitação. Bora nessa.

A coletânea pode ser vista na web da artista e, até o fim de março, no Espai Jove Casa Sagnier, em Barcelona.

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
A terceira onda e a frutinha embriagante https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/01/15/a-terceira-onda-e-a-frutinha-embriagante/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/01/15/a-terceira-onda-e-a-frutinha-embriagante/#respond Fri, 15 Jan 2021 21:34:59 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/el-oso-y-el-madroño-maria-castellano-menor-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=459 Nããããooooo!
Eu quis des-ler, mas não deu.

Esses dias, em meio a notícias sobre a voluptuosa frente fria que cobriu a Espanha de branco e imagens de españoles fazendo guerrinha de neve em Madri…

Eu vi cozóio que a terra há de transformar em tomatiños cherry.

Em caixa alta, em manchetes de todas as cores, a expressão fatídica, até pouco tempo atrás mera quimera: LA TERCERA OLA (a terceira onda).

Só eu que penso sempre no Pedro e o Lobo (versão truncada on acid)?

Pausa pra um pouco de neve e um cão feliz na Puerta de Toledo, em Madri, janeiro de 2021 (Reprodução / David Canales)

Taí. De um dia pro outro, alguém decidiu que a Espanha vem vivendo a Terceira Onda da pandemia desde o Natal, quando o afrouxamento do protocolo anticovidiano teria favorecido a expansão do vírus.

Nem a vacinação, que começou no último dia 27 de dezembro, pode (por ora) conter o que já virou cíclico: expansão de contágios > colapso de hospitais > samba do crioulo doido de restrições novas a cada semana/10 dias/2 semanas, quase sempre anunciadas de última hora > incerteza, teorias, protestos, mais manchetes > rinse, cry, repeat.

Quanto à nova mutação “britânica” do vírus, não só chegou ao território español em sua forma “importada” como já foram detectados casos autóctones, sem vínculo epidemiológico com o Reino Unido. A Mais Nova Teoria Provisória sugere que essa nova cepa circula entre nós há pelo menos um mês.

Zaragoza coberta de neve (Reprodução / Nerea Peña)

No entanto, são muito poucos os britCovid detectados até agora, mormente graças a uma feliz descoberta: um kit de PCR da marca Thermo Fischer que indica resultados (positivos) diferentes segundo a mutação do vírus. Portanto: a culpa da Terceira Onda Espanhola é de-nóis-mermo, não da cepa 70% mais contagiosa dos brexitados.

Assim, pelo menos até final de janeiro, seguimos sem bares e restaurantes a partir das 15h30, muitos comércios fechados, toque de recolher e confinamentos perimetrais. É o lobo, é o lobo.

***

Mudando de bicho: lembrei da história sobre a frutinha alcoólica do Mediterrâneo por causa de uma foto que vi hoje.

Mostra a famosa escultura conhecida como “El Oso y el madroño” (o urso e o medronho), símbolo heráldico de Madri, afincada na praça da Puerta del Sol, a mais importantchi da cidade. No caso, rodeada da neve assaz inusual dos últimos dias.

“El oso y el madroño”, escultura de Antonio Navarro Santafé. Puerta del Sol, Madri, janeiro de 2021 (Reprodução / David Canales)

Há quem afirme que o urso na realidade é uma ursa, símbolo de fortaleza e fertilidade. Poderia inclusive ser uma referência à constelação da Ursa Menor, por conta das 7 estrelas na bandeira de Madri. Até manifestação feminista já houve pra redefinir o sexo do urso, que, por sinal, permanece escondido debaixo do basto pelo metálico.

Quanto à frutinha comida pel@ urs@, é parente das “berries” e colore os bosques mediterrâneos ibéricos durante as estações frias.

Conhecida pelo menos desde a Antiguidade (com um possível “cameo”, por exemplo, na história dos doze trabalhos de Hércules, quando ele mata o gigante Gerião e o sangue deste se transforma num arbusto de frutiñas madroñeras), até hoje é popularmente utilizada para preparar licores, sidras, vinhos, vinagres, “salsas” e marmeladas.

Madroño in natura (Reprodução)

Durante a Idade Média, o madroño (que em português de PrutugaL se chama MEDRONHO ಠ‿ಠ ) se popularizou por suas propriedades medicinais. Naquela época, diziam que podia curar até a peste. Hoje em dia, estudos incipientes indicam que pode ser legal pra prevenir doenças cardiovasculares, por exemplo.

No século 20, deixou de ser vendida em mercados. Agora o lance pra encontrar o madroño (vaya nombre danado) é basicamente se aventurar no mato entre setembro e dezembro.

Vi meu primeiro arbusto de madroño durante um passeio pelos bosques de Sant Mateu, perto de Barcelona, no “Parc de la Serralada Litoral”. Eu, o namorildis e um amigo paramos maravilhados (ok, eu) diante de um arbusto pintadim de vermelho naquela tarde dourada outonal (ah: o madroño é um dos poucos bichos plantíficos que pode dar flor e fruto ao mesmo tempo, um esplendorrr).

Meu amigo, um italiano do norte muy blasé e Sabido em Cultura Popular, comentou: dizem que comer demais essa frutiña dá enxaqueca e embriaga. Passou por nós uma mulher com cara de This Bosque Is Mine, que nos disse: que nada, podem comer sem miedo!

Posso atestar que não fiquei bêbzda, infelizmente. Mas depois soube que a fama é real: o fruto do madroño começa seu processo de fermentação alcoólica ainda na árvore, e quando a gente come já virou mezzo cachaça-de-frutinha.

Daí seu nome em latim: Arbutus unedo, de “unum edo” –comer um só. Ou alguns de seus apelidos mundão afora, como “borrachines” (de “borracho”, bêbado). @ urs@ de Madri, señoras y señoretes, está bêbad@, bêbad@ de frutinh@s silvestres…

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
O voo das pombas, ou: feliz 2042 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/12/23/o-voo-das-pombas-ou-feliz-2042/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/12/23/o-voo-das-pombas-ou-feliz-2042/#respond Thu, 24 Dec 2020 00:00:21 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Pombas-do-paraíso-imaginado-Aniol-Yauci-baixa-res-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=432 Barcelona – Dia #283 – Quinta, 24 de dezembro. Cena: “Ouve esse silêncio”, ele diz. “É Natal!”

Segundona braba de eflúvios natalinos. Eis que me encontro no supermercado pensando se compro aquele kombucha de raspberry pra me sentir saudável com estilê quando avisto um casal de pombas ciscando tranquilamente entre uns pacotes de farinha bio, nozes bio, bio-bio.

Decido lançar um grito de alarme, que sai meio assim: “POMBAAAAS! Eiii, alguéeeeem! Tem POMBAS no corredor de produtos orgânicooooo-ooowws!”.

Impressionante. É hora do rush, mas ninguém nem tchum. Apenas as duas supracitadas meliantes, assustadas com minha ceninha humanoide, voam, alcançam as luzes ramificadas pelo imenso teto metálico do recinto, fazem um bailinho bonito no ar e pousam novamente entre os itens bio de sua preferência.

Não estou na roça. It’s Barcelona e este é um dos maiores supermercados da cidade (Carrefinhour, you know –daqueles que vendem sushi, bicicleta e jamones de Natal).

(((O que me faz lembrar de Javier Bardem cortando jamón sobre o capô do carro em “Jamón, Jamón”:)))

 

Olho à volta. Ninguém parece se preocupar com as pombas, ninguém dá mostras de haver visto as ditas. Fascinante.

Fico lá segurando o kombucha por um instante enquanto famílias, casais, jovens, velhos, aliens e titanoboas circulam ao meu redor com expressões compenetradíssimas, os braços e carrinhos cheios de itens natalinos e, talvez, uma promoção de 3×2 meias de presente pra alguém.

Cantarolo baixinho: el tiempo não paaa-a-a-ara…

 

***

Esta semana, o que já era duro piorou. Os casos de Covid estão crescendo, todo mundo nazoropa tá com medo dos britânicos e é quase Natal. Vaya mistura explosiva de contradesejos.

De última hora, na quinta (17), o governo decidiu reduzir ainda mais o horário de funcionamento dos bares e restaurantes.

Até então, os estabelecimentos locais já estavam estertorando à base de 30% da lotação máxima, mesa de até 4 pessoas (ok, falô) e toque de recolher às 22h. Desde esta segunda (21), passaram a só poder abrir 4 horas ao dia, pela manhã e pro almoço.

Com isso, todas as reservas de ceias de Natal e Ano Novo foram repentinamente canceladas. Barcelona é terra de muitos negócios familiares. Produtos caros e especiais estão perecendo nas geladeiras, e os donos dos bares e restaurantes têm saído às ruas para protestar. Quem paga a conta? Quem ajuda? O que virá?

E não para por aí. Agora mesmo, não podemos deixar a comarca, a cidade, o estado de residência, a não ser por motivos justificáveis. E pensar em ir mais além da fronteira nacional é embarcar num phD coronavirístico em que o currículo mínimo pode mudar todos.os.dias.

Eu em verdade vos digo: fico em casa o máximo possível. Uso a máscara masterblaster pra pegar condução. E evito ao máximo: faço tudo de bike.

Meu maior pecado em 2020 foi ter pego um voo pra Ibiza no verão, durante o breve idílio pós-primeira onda da pandemia. O avião tava vazio, Ibiza (pasme) tava vazia. Foi legal, foi tenso.

Quando eu comecei a escrever o Diário de Confinamento na Folha, em março, há exatos 283 dias, creio que todos pensávamos que a coisa ia durar alguns meses.

E, quando terminei os 100 dias de textos, me despedi contente: tamo quase. Isso foi há exatos 183 dias. Agora, segundo algumas manchetes, estaríamos nos preparando para uma terceira onda. A vacina começa a ser distribuída na Espanha nas últimas horas de 2020, no dia 27 de dezembro, priorizando profissionais de saúde e grupos de risco. Vamuvê.

Mas é Natal, gente. E a fofolização pollyanística-positivista do cotidiano está por toda parte, como um manifesto contrário ao desânimo. Vamos então vestir nossos melhores pijamas e clicar no convite do zoom de família com uma sidra de Astúrias na mão. Celebremus.

 

As vitrines festivas aqui seguem coalhadas da coronamoda de homewear, comfortwear, vamotodomundoviverdepijamawear. Compremos roupas fofiñas, pois. Nunca o presente clássico da vó fez tanto sentido. Celebremus, celebremus.

Fotos de Instagram mostram gente rrrrica/enfeitada/rosada em casa, com cara de gozo ou felicidade margarina, entre móveis novos da Ikea e paredes caiadas de branco pra dar aquele astral no claustro. 2020 nas redes sociais tem tanto filtro e producción que me olho no espelho e digo: joder, é só isso? Quedê os corazones flutuando sobre minha cabeça?

Como se todos fôssemos profissionais liberais felizes da vida com empregos bem pagos e firmefortes durante a pandemia, vivendo em castelos de mostruário da Casa Vogue, sem deprê, sem histeria íntima, sem saco cheio porque, né, POSITIVIDADE, GENTE.

As propagandas de peru, jamón, celular, panetone, caldo ki-norr mostram famílias reunidas, aconchegadas entre vapores de panelas e pratos quentinhos. Sim, eu sou véia e algo queixosa, mas ainda vejo manteiga no pão e acho que a vida é pra sempre.

Javier Bardem no filme “Jamón, Jamón”, de Bigas Luna, entre jamones jamones, só porque sí (Divulgação)

***

É 2042. Ano da 1347589701a cepa do vírus, aquele que há pouco mais de duas décadas começou como uma coceirinha.

E é Natal. Sempre haverá Natal. Este ano, sem peru, que os perus se extinguiram em 2025 por conta da variação 12382780 do vírus. Agora a onda é comer mini codornizes GMO, que podem ser criadas em casa.

Voltando às pombas. Naquele longínquo dezembro de 2020, eu deveria ter gritado: “FOGOO!!”. Ou: “VAI FICAR TUDO BEM, GENTE!”

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
‘Melhor estocar papel higiênico outra vez’ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/09/melhor-estocar-papel-higienico-outra-vez/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/09/melhor-estocar-papel-higienico-outra-vez/#respond Fri, 09 Oct 2020 15:11:56 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/pierro-o-olho-que-olha-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=231 Ultimamente, considerando a nova onda de contágios de Covid que assola a Espanha, caí numa moda pessoal de perguntar a todo mundo o que pensa que vai acontecer adiante, corongamente speaking. Interessantes, pitorescas respostas.

Minha ginecologista, hospital público, amabilíssima, de origem colombiana, me conta que o confinamento afetou as mulheres hormonalmente, e muito, com menstruações descontroladas, fluxos alterados, cistos e miomas inéditos.

“Pode ser minha impressão, mas acho que virão mais alterações hormonais com o inverno”, diz. “O estresse impacta muito a saúde hormonal”. Alguém aí se identifica?

A senhora no mercadão diante de casa, cabelo grisalho de corte impecável, óculos de aros de tartaruga embaçando sobre a máscara: enquanto nós duas escolhemos calças de inverno vendidas por um rapaz indiano a 5 euros (vivemos na Espanha uma prolongada época de liquidações) e damos pitacos mútuos sobre estampas, ela comenta, “se a gente não sabia que ia vir tudo isso, como vamos saber o que virá?”.

Fiquei sem resposta. Isso seria o quê, reflexão neo-anti-proto-pós-fenomenológica? Muito avançado pro meu nível ticoeteco.

O indiano, entrando na conversa: “vai ser complicado, foi complicado, já tá complicado”.

Eu pensei em replicar algo na mesma linha, com melodia, ritmo e contundência esfíngica, mas, cantoira que sou, só me ocorreu cantarolar baixinho: “isso aqui, ôoooo…”.

Isso foi hoje, há minutos. Dia de sol, brisa fresca, princípio de outono.

Outro dia, no caixa de uma loja da Zara no centro de Barcelona, a funcionária pergunta: “qual é o seu código postal, senhora?”.

Me chamou de senhora, quase não quis responder, seguindo meu instinto de negação. Quando eu afinal lhe disse, perguntei por que pedia essa informação. Ela me explicou que era pra um estudo sobre o perfil de cliente que estava frequentando as lojas pós-confinamento.

Señoras y señores, tomem nota de que estamos falando da principal marca da Inditex, grupo do mogul espanhol Amancio Ortega, um dos hômi mais ricos do mundo. Mais exatamente, o quinto mais rico do planeta, segundo a Forbes, à frente do Zuckerberg.

“Y qué? Deixa ver se eu adivinho: os clientes são todos locais, nenhum turista”, repliquei. Ela faz um meneio afirmativo de cabeça e nos entreolhamos, com o olhar significativo e cúmplice de boca torcida dos que atravessamos uma quarentena prolongada e seguimos passando bombril na armadura montada no armário, à espera de novas batalhas.

O enfermeiro de um importante laboratório de análises clínicas, um rapaz jovial y alegre com gorrinho de estampa de ursinho (suponho que pra acalmar os ânimos dos “nens” (crianças, em catalão) que vêm enfiar palito no nariz pra fazer PCR), me diz: “tenho feito cada vez mais testes de Covid. Sobre o que nos espera, eu diria: melhor estocar papel higiênico outra vez”. E rimos. Fazer o quê.

Meu compañero de apartamento: “por via das dúvidas, já encomendei uns pesos e faixas elásticas pra gente não engordar no inverno”. A gente passou todos os meses de confinamento domiciliar este ano fazendo exercício de iutubi em casa. Ficamos super em forma, mas quando pudemos sair de casa de novo no verão muy rapidamente ganhamos uma barriguiña.

Um amigo catalão, advogado, meio niilista (como alguém pode ser meio niilista, Susana) e recém-recuperado de coronavírus, trabalha em um projeto de recepção de refugiados na prefeitura de Barcelona: “ora, vamos todos morrer, claro” –vaticinou.

Depois, mais convencional: “creio que a coisa vai estar complicada de novo até a primavera, com altos e baixos e semanas com mais ou menos restrições em função dos contágios… uma m****. Definitivamente, não poderemos fazer planos pra nada. Mas é falar por falar, porque não tenho ideia. Sou um enorme ignorante”, termina, algo pândego, algo sério.

E um amigo argentino, vivendo há milênios na Catalunha, lutando com sua garra e marra pra manter um pequeno bar que os amigos frequentamos pra estar e apoiar: “‘xxo’ sei lá como será, mas durante o confinamento em casa joguei fora os espelhos, e agora vivo sozinho”.

Você num tá vendo, mas ele termina a frase com um olhar de pupilas tinindo/reluzentes e um sorrisinho sábio de saca-só-essa-frase-que-genial.

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
Madri entra em confinamento a partir desta sexta (02) https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/02/madri-entra-em-confinamento-a-partir-desta-sexta-02/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/02/madri-entra-em-confinamento-a-partir-desta-sexta-02/#respond Fri, 02 Oct 2020 23:02:44 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Puerta-del-Sol-Madri-por-David-Canales-@d4v1dfotos-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=198 A partir das 22h desta sexta-feira (02), Madri entrará em um confinamento parcial.

A capital espanhola e 9 municípios dos arredores se encaixam nos novos critérios para confinamento divulgados pelo governo central nesta quinta (01) com o objetivo de conter a segunda onda de contágios no país.

Basicamente, o isolamento “perimetral”, como se vem chamando aqui, será imposto a todos os municípios espanhóis onde, simultaneamente, os casos ultrapassem os 500 por 100 mil habitantes na última quinzena; pelo menos 10% dos testes de PCR sejam positivos; e mais de 35% dos leitos de UTI estejam ocupados por pacientes de Covid.

Madri responde atualmente por mais de um terço dos quase 134 mil novos casos diagnosticados no país nas últimas duas semanas, e apresenta uma taxa de 780 casos por 100 mil habitantes. Além da capital, serão confinados outros 10 municípios da Grande Madri.

DESLOCAMENTOS LIMITADOS

A Espanha é o segundo país europeu com mais casos de Covid até hoje, atrás apenas da Rússia. É seguida por França, Reino Unido e, lá atrás, a Itália, com “apenas” 317 mil casos até o dia de hoje, menos que a metade dos casos espanhóis, segundo contas do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças.

Lembrei da conversa com uma italiana de Turim outro dia. “Nós, italianos, somos super passionais e tal, mas, olha só –conseguimos sobreviver ao verão e estamos bem”. Bom pra vocês, amici.

O novo confinamento não é domiciliar, como durante o estado de alarme, mas seletivo: somente permitirá deslocamentos entre municípios por motivos de trabalho, saúde ou estudos. Por qualquer outro motivo, somente dentro da própria cidade de residência, e seguindo as regras sanitárias já vigentes, como o uso obrigatório da máscara.

De resto, reuniões, só de até 6 pessoas, como já valia em Madri desde princípios de setembro; e comércio, bares e restaurantes voltarão a fechar entre 22 e 23h, com lotação máxima de 50%.

Homem é submetido a teste PCR, rodeado de enfermeiros e assistentes
Teste de Covid num centro cultural do bairro popular de Vallecas, um dos mais afetados pela pandemia e submetido a isolamento parcial em setembro de 2020 (Sergio Perez / Reuters)

No papel, muy bonito, mas os problemas e dúvidas são muitos, especialmente em uma cidade populosa como Madri, capital econômica da Espanha e ponto de convergência ou passagem de inúmeras rotas aéreas e terrestres europeias.

Por exemplo, como controlar a entrada e saída da população flutuante? E como aplicar sanções aos desobedientes?

As medidas recém-publicadas serão analisadas pelo Tribunal Superior de Justiça de Madri, o qual estabelecerá as multas em caso de descumprimento. Os valores poderão oscilar entre 600 e 600 mil euros.

Outra grande dúvida é o que fazer com os turistas, tanto nacionais quanto estrangeiros. Até este momento não existe posicionamento oficial a respeito.

Um cidadão espanhol de um município confinado não pode visitar Granada ou Barcelona, mas pode pegar o avião pra ir passear em Paris?

Ou: um turista estrangeiro poderá entrar em Madri? A julgar pelas novas regras, a resposta seria não. Mas, como agora mesmo as fronteiras espanholas não estão fechadas, tecnicamente não se pode impedir a entrada de visitantes.

DIVERGÊNCIAS

Além de dúvidas, as novas medidas, junto com a situação crítica do país, vêm servindo de lenha para atritos políticos.

A polêmica mais pitoresca da semana aconteceu durante sessão do plenário nesta última quinta (01), quando Madri foi chamada pela oposição de “Chernobyl da Europa”, em alusão ao crescimento exponencial de contágios. O caso gerou reações na internet e até um comentário do criador da série “Chernobyl”, da HBO.

Desde o início da pandemia, em março, os embates entre Madri e governo central vêm acontecendo na mesma nota: enquanto o primeiro defende uma abertura econômica imediata, com medidas amenas de segurança sanitária, a política do governo central vem priorizando a saúde.

“Madri é especial porque a saúde de Madri é a saúde da Espanha”, resumiu o ministro da Saúde, Salvador Illa, em entrevista coletiva na última quarta-feira (30).

No mesmo dia, Ayuso declarou: “estamos nos arruinando, temos que buscar fórmulas intermediárias criativas. Madri não pode se confinar”.

Mas a definição de “fórmulas intermediárias” também é complicada. Vide as medidas restritivas impostas há duas semanas pelo governo local a 45 áreas sanitárias de Madri –não coincidentemente, foram afetadas as zonas mais pobres, o que gerou protestos da população.

Com o novo confinamento imposto pelo governo central, deixam de valer a partir de hoje as restrições por áreas sanitárias.

O governo de Ayuso apresentou um recurso contra a nova resolução do governo central. Até sair uma decisão judicial, porém, acatará as medidas.

 

To be continued…..

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0
Estudo sugere que Espanha afrouxou confinamento cedo demais https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/09/25/estudo-sugere-que-espanha-afrouxou-confinamento-cedo-demais/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/09/25/estudo-sugere-que-espanha-afrouxou-confinamento-cedo-demais/#respond Fri, 25 Sep 2020 21:56:07 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Praia-de-Bogatell-em-Barcelona-setembro-de-2020-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=175 Ah, as fantasias coletivas. Da noite pro dia, ou de alhos pra bugalhos, não vivo mais num país (razoavelmente) exemplar no combate à pandemia.

Pelo menos é como a mídia espanhola tem digerido o novo informe científico publicado nesta quinta (24) pela revista médica inglesa The Lancet, intitulado “Lições aprendidas ao aliviar as restrições anti-Covid-19: uma análise de países e regiões da Ásia-Pacífico e Europa”.

O documento, assinado por 17 especialistas de diferentes nacionalidades, faz uma análise comparativa entre as estratégias de desescalada do confinamento adotadas por 9 países e regiões “de alta renda” —Hong Kong, Japão, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul, Alemanha, Noruega, Espanha e Reino Unido.

O objetivo é identificar “as lições que os governos podem aprender com os êxitos e fracassos de outros”. As conclusões são tão óbvias quanto preocupantes, considerando que estamos, no hemisfério norte, a caminho do inverno, com uma segunda onda no encalço.

MÁSCARAS E ABERTURA TURÍSTICA

Entre as medidas positivas adotadas pela Espanha, o estudo aponta a adoção precoce da distância de 1,5 metro e o uso obrigatório da máscara em contextos específicos (e, desde maio, em qualquer contexto, inclusive na rua —uma medida mais radical que em outros países como Alemanha, França e Reino Unido, onde até o momento não é obrigatório o uso da máscara ao ar livre).

Vista da entrada do aeroporto em Barcelona, com a rua deserta
Aeroporto de Barcelona, setembro de 2020 (Susana Bragatto / Folhapress)

 

No âmbito social, o informe destaca a aprovação acelerada do Ingresso Mínimo Vital, uma renda mínima com a qual o governo espanhol espera beneficiar 2,5 milhões de pessoas em situação de risco.

Por outro lado, e aí vem a pedrada que já sabíamos, mas não em letras douradas assinadas por mil phDs, o estudo frisa que temos na Espanha muito menos camas de UTI (9,7 por 100 mil habitantes) que outros países asiáticos e vizinhos europeus como Alemanha (34 por 100 mil), e um sistema sanitário basicamente frágil, com muitas deficiências no rastreamento e isolamento de casos e na capacidade de absorção de enfermos.

Ora, essa fragilidade do sistema de saúde significa, obviamente, o que todo brasileiro também sabe de berço: que, quando a coisa aperta, a infeliz tendência é um coletivo deus-dará, elevado ao cubo nesses drásticos tempos pandêmicos.

Finalmente, o estudo da Lancet critica algumas decisões que considera precipitadas, como a suspensão espanhola da quarentena obrigatória para europeus que entram no país.

A medida algo desesperada foi anunciada em junho, quando estávamos saindo do confinamento nacional. A ideia era não perder os turistas de verão e afundar ainda mais a economia, monoamparada no setor em diversas partes do país, com destaque para Madri e Barcelona.

Trem lotado em véspera de feriado, Barcelona, setembro de 2020 (Susana Bragatto / Folhapress)

Mas não funcionou muito: além de previsivelmente contribuir para a segunda onda de contágios, a abertura não impediu o cancelamento de 70 a 80% das reservas turísticas de agosto, a partir do momento em que que a imprensa internacional começou a alertar para novo aumento de casos no país.

Barcelona, onde vivo há anos, viveu um verão atípico. Pela primeira vez desde que cheguei, as ruas e atrações turísticas estiveram (estão) vazias; os bares e praias, demasiado cheios de gente local; e inúmeros negócios, de portas fechadas, temporariamente ou para sempre.

O FIM DO UFANISMO PÓS-PANDÊMICO

É difícil lembrar, porque a memória é curta, o caminho é longo e os problemas são muitos (lá se vão mais de 7 meses desde o anúncio do estado de alarme espanhol); mas, poucos meses atrás, o governo, a mulher da cafeteria e o vizinho estavam relativamente orgulhosos do combate coronático espanhol.

No final de março, um estudo divulgado pelo Imperial College of London em colaboração com a Universidade de Oxford e a OMS (Organização Mundial da Saúde) celebrava as 60 mil vidas europeias preservadas até aquele momento graças ao “lockdown” restrito em 11 países, Espanha incluída.

Durante o confinamento espanhol, nem a oposição era capaz de ofuscar o ufanismo simonesco (centrado na figura de Fernando Simón, médico e porta-voz do Ministério da Saúde durante a crise).

Já em abril, porém, a OMS avisava do risco de se afrouxar a guarda cedo demais, principalmente nos países mais afetados —de novo, Espanha incluída.

Em junho, depois de um mês de desescalada progressiva, ingressamos no tal NovoNormal. Dois meses depois, e muito mais rápido do que se imaginava, caímos na segunda onda, já pressentida no início de agosto, auge do verão.

Como o personagem daquele desenho animado antigo que repete “eu te disse, eu te disse” (quem lembra disso??), o novo relatório publicado pela Lancet aponta erros e culpados. Saudável e importante crítica, ainda que talvez demasiado tardia.

Saímos da desescalada pós-primeiro surto rápido demais. Yadda yadda yadda. Agora é óbvio. É a voz do sábio tomando uísque no café em Parrí e observando os anarquistas na rua, barricadas, Charles Hebdo, embrulhado no conforto phopho de sua poltrona de couro vermelho (minha imaginação não tem limites, perdón). Eu te disse, eu te disse.

(Siga o Normalitas no Instagram)

]]>
0