Normalitas https://normalitas.blogfolha.uol.com.br Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis Sat, 04 Dec 2021 00:01:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Um passeio pelo maior sebo da Espanha https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/09/03/um-passeio-pelo-maior-sebo-da-espanha/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/09/03/um-passeio-pelo-maior-sebo-da-espanha/#respond Fri, 03 Sep 2021 20:19:44 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/El-Siglo4-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=1017 O chão se enrola em si mesmo, formando quadrados vertiginosos que suportam poltronas de veludo. O palco está vazio, exceto por um piano de armário onde falta uma tecla, um ré central –tomo nota, mentalmente, enquanto dedilho.

No lugar de paredes, livros. Muitos. Los que quieras.

Enfileirados, empilhados, eretos, debruçados, pairam sobre as cabeças passeantes umas coleções extensíssimas, arte, psicologia, clássicos, edições raras.

Nada como um pianiño, umas revistinha e uma versão-for-kids de (In My) Solitude (Susana Bragatto / Folhapress)

Num outro aposento, sobre uma mesa com tampa de vidro e cadeiras estilo Luís XV, um gordo lustre ilumina um livro infantil ilustrado, talvez recentemente folheado por mãozinhas ou mãozonas: Las pesadillas de Winnie the Pooh (Os Pesadelos do Ursinho Puff).

Logo ao lado, uma cozinha industrial, moderna e minimalista, rodeada de –adivinhou –mais livros. Ali, rolam aulas de culinária e outros eventos gastronômicos.

Outras estantes carregam fotos de toureiros, bibelôs, dedicatórias esmaecidas, pôsteres de outra Espanha, histórias de outras vidas.

Relíquias e delicadezas da livraria El Siglo, o maior sebo da Espanha (Susana Bragatto / Folhapress)
Avec Carmen Miranda à la española (Susana Bragatto / Folhapress)

Este é o El Siglo (O Século), o maior sebo da Espanha, um mundo fabuloso e complexo entocado num galpão dentro do Mercantic, famoso mercado de antiguidades e artigos lokos de segunda mão no município de Sant Cugat, a meia hora de Barcelona.

A livraria ostenta esse título desde 2013, quando incorporou os 100 mil exemplares de outro templo sebístico de Barcelona, o La Canuda, que funcionava desde 1948 no centro perto da Plaza Catalunya e fechou as portas pra dar lugar a alguma super loja de fast fashion das que hoje abundam por ali.

Hoje, o El Siglo possui em torno de 150 mil livros, revistas e documentos distribuídos em 800 metros quadrados. É lugar pra chegar, se perder por horas e emergir com algum livrinho barato (ou não) na mão.

Adentro o hall principal, onde há um bar e o burburinho de uma discreta massa, num domingo de sol de final de agosto. Tô emocionada.

Não só pela impressionante abundância de volumes e lustres de cristal, que dão ao local um arzim épico-charmoso de templo-dos-traça-lovers. Mas, principalmente, porque é dia de música ao vivo.

Um dos palcos dentro da livraria El Siglo, o maior sebo da Espanha (Susana Bragatto / Folhapress)
Ursinho Puff também é cultura (Susana Bragatto / Folhapress)

Minha primeira vez em muito, muito tempo.

Os indícios de uma pandemia ainda rondam aqui e ali: vemos gente mascarada, álcool em gel e mesinhas distantes umas das outras. Mas, de resto, a experiência é mansa y dulce.

A música ao vivo tem voltado aos poucos em alguns lugares. Ainda não muito.

Encontramos um cantinho pra sentar, equilibrando no colo vermutes e vinhos verdejo. Nesse salão principal, num palco maior que o mencionado acima, um duo de baixo acústico e piano começa a produzir as primeiras notas de um standard de jazz desses que a gente cantarola e não lembra de onde conhece.

Depois, entra a cantora: uma catalã entoando chansons francesas. Ne me quitte paaaaaaas, e a gente vai balançando ao ritmo dessa súplica poética, tentando esquecer por um momento que, apesar de 70,9% da população imunizada após 8 meses de campanha de vacinação, ainda temos alguns milhares de casos novos de Covid no país diariamente; e empurrando pro fundo do intestinus delgadus os alertas dos tais Especialistas Epidemiologistas, que vêm nos dizendo: cuidado que pode vir mais, cuidado que tem o frio chegando, cuidado que a vacina não funciona assim tão bem com as novas variantes.

Concerto na livraria El Siglo, o maior sebo da Espanha, agosto de 2021. Saca esse público comportadim, que fofo 😉 (Susana Bragatto / Folhapress)
The Spanish way em El Siglo (Susana Bragatto / Folhapress)
Livraria El Siglo, o maior sebo da Espanha, agosto de 2021 (Susana Bragatto / Folhapress)
Vai um livriño aí? (Susana Bragatto / Folhapress)
Palco principal da livraria El Siglo, o maior sebo da Espanha, agosto de 2021 (Susana Bragatto / Folhapress)

Hoje não, por favor. Termino meu verdejo, o último de muitos. Tout peut s’oubliee–eeeeer lalalala.

Debaixo do braço, trupicando, mas ainda em pé, levamos uma edição marota setentista de Leaves of Grass, de Walt Whitman. Pra não sair de mãos abanando, pra arrematar a visita com uma mesura a esse belo lugar, pra declamar em voz alta, detrás de uma máscara cirúrgica 2021, num canto alumiado de algum aposento da alma cansada, I celebrate myself, and sing myself….

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O que de verdade importa https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/07/02/o-que-de-verdade-importa/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/07/02/o-que-de-verdade-importa/#respond Fri, 02 Jul 2021 12:16:41 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/vacinacao-julho21-barcelona-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=847 Hoje foi dia de vacina, bebê.

Com essa dose única da Pfizer, eu já posso pegar o meu “passaporte Covid”, aka certificado digital europeu, que me permite circular livremente dentro da União Europeia.

Na Espanha, os que passamos por Covid tomamos somente uma dose da vacina de mRNA (no meu caso, a Pfizer), e não duas, já que estudos internacionais indicam que a vantagem de um segundo shot para o desenvolvimento de anticorpos é desprezível.

Seria interessante que aí no Brazel liberassem também umas vacinas com este protocolo, não?

E, falando em Brazelzelzel: nesta última quinta (1), mesmo dia em que entrou em vigor o certificado digital na Europa, a Espanha anunciou que brasileiros seguirão sem poder entrar no país por mais um tempo.

Até pelo menos o próximo dia 20 de julho, brasileiros sem residência ou passaporte espanhol não poderão pisar no país, a não ser no eventual caso de escalas, e sem deixar o aeroporto.

“E quem tem família na Espanha, pode?”, me perguntou uma amiga brazilêra querida ontem.

Nananinaaam. Até segunda ordem, só entram na Espanha os brasileiros que possuam residência ou passaporte espanhol.

E mesmo estes deverão apresentar um dos seguintes documentos: certificado de vacinação completo, teste negativo de Covid realizado até 48 horas antes da chegada na Espanha ou prova de que passou por Covid e se recuperou.

Bom, até aqui vai o Momento Serviço dessa coluna. Agora vou soltar o meu deixadeixadeeeeixaeudizeroquepensodessavidaprecisodemaisdesabafar (copyright de Claudia, Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza) do meu bunker d’além mar.

***

Levamos uma semana sem a obrigatoriedade da máscara nas ruas na Espanha. Depois de um (longo as hell) ano com caras escondidas, liberdade. Emoción.

No último sábado (26), primeiro dia da liberdade mascarística, saí de casa comovida, hesitante, vulnerável. Cêis me entendem.

Como há muito não fazia, examinei meu rosto nu no espelho do elevador (por falar nisso: tristes, essas luzes implacáveis de cirurgia de elevador, a gente sai de casa querendo se sentir bafo e topa consigo em versão rã dissecada –mudaí, Schindler, pelo bem da nossa autoestima).

E pensei dois pensamentos:

Envelheci muito este último ano, e só não havia notado tanto porque frequentemente uma máscara tapava o inexorável.

E essa máscara fppp2p32 X 1 ano me deixou de legado umas p*** marcas nas minhas bochechas, que já não são pequenas.

Saindo pra rua depois desse breve solilóquio de elevador (e me sentindo agora não só vulnerável, mas meio deprê, pensando em botox e outros paranauês), caminhei com medinho. Sem exagero. Sorvendo o ar fresco da manhã de sol numa vibe meio esquisita, vagamente criminosa.

Até que, movida por uma ansiedade incontrolável, não aguentei, gente: com o corazón aos pulos, me sentindo bem loka, arranquei a máscara azul do bolso e levei-a ao rosto, como se fosse o oxigênio do Dennis Hopper em Veludo Azul. Respirei aliviada o bafo quentinho protetor daquele material cirúrgico sobre a minha boca. Quem diria.

Mais calma, me dei conta de um curioso, hmm, comportamento de rebanho ao meu redor: ao contrário do que eu imaginava, e pelo menos aqui em Barcelona, muita gente optou por seguir usando a máscara na rua nesses primeiros dias, sobretudo idosos –justamente a população que está praticamente l00% imunizada.

Suponho que muitos optam (optamos, porque eu venho fazendo o mesmo) por andar na rua com a máscara a postos naquela já clássica posição slack preferida — debaixo do queixo. Caminhamos algo mais livres, mas preparados para o momento de nos meter em bares, supermercados ou transporte público, onde ainda é obrigatório usar a dita.

Ou será que o puro fenômeno Apego à Máscara (ou Fobia do Ar Livre, ainda não encontrei uma expressão adequada –alguém aí tem uma ideia?) não é só comigo?

***
Com o vai-não-vai na redução de casos na Europa, o verão chegou no último dia 21 de junho –mas sem a usual massa de turistas estrangeiros loucos pra currrrrtir Barcelowna.

Isso, combinado com o fato de que o barcelonês costuma se mandar da cidade em julho e agosto por causa das férias, gerou uma cidade turística fantasma, pela qual venho passeando esses dias entre assombrada, refestelada e — again –algo deprê.

É, deprê. Acabou A Grande Ameaça, so they say, mas restam agora vários pequenos pipocos no aire. A crise. As portas fechadas para-siempre de muitos negócios.

E uma sensação (completamente pessoal) que não me deixa nos últimos dias: de que Barcelona, a cidade Condal, estrela-mor do segundo país mais visitado do mundo, perdeu no último ano um pouco de seu glamour, seu verniz de destino fantasia, onde as gentes vêm pra comer paella, tirar uns selfies emoldurados pelo entardecer flamingo do Mediterrâneo ou conseguir boffs em apepês.

Algo semelhante a quando acendem a luz depois da balada e você se depara com a sujeira da pista de dança, os bêbados e tua cara no espelho do bar, maquiagem toda borrada, as rugas gritando sob o chiaroscuro cruel das lâmpadas LED. É, filha. O tempo passa, as rugas se somam, a vida segue. Vida real, parte da vida, o que de verdade importe.

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Com surto entre jovens, Espanha suspende obrigatoriedade da máscara nas ruas https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/06/25/com-surto-entre-jovens-espanha-suspende-obrigatoriedade-da-mascara-nas-ruas/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/06/25/com-surto-entre-jovens-espanha-suspende-obrigatoriedade-da-mascara-nas-ruas/#respond Fri, 25 Jun 2021 13:28:35 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/barcelona-festa-aftermath-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=821 A partir deste sábado 26, deixa de ser obrigatório o uso de máscara nas ruas na Espanha. A medida entrou em vigor em junho de 2020, há exatamente um ano. Ainda será preciso usá-la em ambientes fechados e aglomerações onde não seja possível manter a distância de 1,5 metros entre os circunstantes.

A medida chega num momento em que a vacinação nacional atinge recordes –dentro de alguns dias, o país receberá 6 milhões de doses, uma quantia inédita –e as mortes por Covid caem rotundamente (na Catalunha, nas últimas 24 horas, por exemplo, registrou-se um único falecimento).

Seria um sinal dos tempos, ou melhor, do fim da pandemia? Nononono, como diria a Amy CasadeVinho.

Talvez como artifício do destino pra nos lembrar que é preciso caminhar nessa vida pós-covídica com cuidado, um recente surto de coronavírus entre jovens espanhóis tem contrastado com as notícias ‘celebratórias’ vacinísticas.

Até agora, foram identificados cerca de 400 casos positivos e isoladas por volta de 2 mil pessoas. Tudo por causa de uma série de viagens de fim de curso (equivalente ao fim do Ensino Médio no Brasil) entre 12 e 20 de junho à ilha balear-turística de Mallorca, onde a molecada de umas 30 escolas espanholas botou para quebraire em festinhas.

Fila para teste PCR em clínica de Barcelona, junho de 2021 (Susana Bragatto / Folhapress)

Ou, como define a diretora geral de Saúde Pública da Comunidade de Madri, Elena Andradas, em “um programa de atividades, com festivais, bastante intenso”.

***

Eu ainda estou esperando a minha vacina. Passei por Covid há exatamente um ano, em junho de 2020, e me convocaram pra tomar uma dose no último dia 22 –mas não deu certo.

Nesse dia, cheguei no centro cívico adaptado pra campanha de vacinação e me encaminharam para um amplo salão decorado com cordões de frufrus brilhantes e um globo de espelhos pendendo do teto.

Só não parecia que ia rolar um baile da terceira idade porque, em lugar de banda e pista de dança, havia cadeiras dispostas segundo as distâncias mínimas de segurança e mesas onde enfermeiros manipulavam caixas de injeções.

Do lado oposto de onde sentei, seres humanos com caras de poucos amigos seguravam o braço e olhavam o vazio –é preciso estar sob vigilância por 15 minutos antes de ser liberado, pro caso de haver alguma reação à vacina.

Chega a minha vez. A enfermeira, sem me olhar na cara, pergunta se tive Covid. Me surpreendo. “Sim, faz mais de um ano”, atenuo. Ela finalmente ergue seus olhos verde-vítreos-ausentes-cansados pra me dizer: “então não pode tomar esta vacina da Janssen. Tem que ser a da Pfizer”.

Ora, se o sistema de saúde controla tudo de nossas vidas covídicas, por que não cruzou dados pra me dar a vacina correta? Yes, gastemos tempo e dinheiro público com uma “tontería” dessas, penso. Metade da fila diante de mim não pôde tomar a vacina pelo mesmo motivo.

Campanha de vacinação em Barcelona, junho de 2021. E meu pé (Susana Bragatto / Folhapress)

Segue-se outra fila, ao final da qual um recepcionista de olhar mais cansado ainda me diz: não posso marcar nova vacina pra você. Volta na segunda.

“Ah: e nem tente ligar pro posto de saúde”, acrescentou. “As linhas estão congestionadíssimas”.

Era véspera de feriado, San Juan, ponte. Barcelona começava a esvaziar-se, população viajando. Eu devolvo o olhar cansado pro recepcionista. Queria mandar sifudê, mas what’s the use.

Depois de um périplo adicional, consegui marcar minha dose da Pfizer para o próximo dia 2 de julho.

***

Deixar de usar a máscara na rua será esquisito. Não tô preparada pra esse momento e seguirei usando a dita porque soy muy loca, ou não.

E nem todos por aqui estão celebrando a medida. O presidente da região de Andaluzia, Juanma Moreno, deu voz à preocupação de alguns setores da sociedade espanhola, inclusive epidemiologistas, definindo a suspensão da obrigatoriedade da máscara nas vias públicas como “precipitada”, gerando “falsa sensação de segurança”.

“Nos preocupam os contágios e surtos recentes, porque há casos da variante Delta em Gibraltar, perto de Andaluzia”, disse. “Vimos como Portugal ou Israel (…) voltaram a impor o uso [da máscara]. Sigo recomendando que os cidadãos a utilizem”.

To be continued // Continuará (como se diz em terras españolas) // Continua………….

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A máscara da discórdia, abóboras e crises https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/a-mascara-da-discordia-aboboras-e-crises/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/a-mascara-da-discordia-aboboras-e-crises/#respond Sat, 30 Jan 2021 00:45:15 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/capa3-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=505 Barcelona, city of leisure and catedrais inacabadas.

Aconteceu no metrô cheio ao meio-dia.
Segue a tradução (algo) livre:

— SEU VELHO TONTO! (sic)
— TONTO É VOCÊ!
— ORA, MAS QUE POUCA VERGONHA! QUERIA VER UM POLICIAL AQUI AGORA TE PASSANDO UMA CORREÇÃO!
— APROXIMA TUA CARA DA MINHA BOTA PRA VOCÊ VER O QUE PENSO DISSO! (nessa parte, eu confesso, vibrei)
— ESPERO QUE MORRA LOGO! SEU VELHO!
— FALÔ, JOVEM!!!

Esse simpático diálogo, que só tem sua graça aqui escrito, ocorreu entre um casal de idosos sentados diante de um outro idoso que, algo bêbado (eu sei porque estava sentada do seu ladiño), levava a máscara cirúrgica azul em sua famosa Modalidade Inútil Número 1: com o nariz de fora.

— Senhor, perdão, mas a máscara é obrigatória pra todos nós. Por favor, ponha direito –intervim* a certa altura, tentando apaziguar os ânimos.

* vaya palabra rara de cojones ⤜(ʘ_ʘ)⤏

Impaciente, o caballero da napa de fora acatou meu pedido. Só pra, adiante, no meio da “pelea” (briga), tirar completamente a máscara, encarando desafiante seus oponentes, que, é verdade, também estavam começando a me irritar com o incessante murmúrio bullyiesco contra o ciudadano.

Choquei, gente. E me choquei com meu choque de ver um ser humanus arrancando a proteção anti-Covid no metrô.

Todos os demais espectadores naquele vagão do meio-dia: caladinhos detrás de suas máscaras. Ora, pipokas.

***

A Espanha vive atualmente a terceira onda da pandemia, com 38 mil casos novos nas últimas 24 horas.

A média acumulada nacional é de 886 casos por 100 mil habitantes, com algumas regiões, como Valência, ultrapassando os 1.400 casos por 100 mil. Somos o quinto país comunitário mais afetado pelo vírus agora mesmo, atrás de Portugal (1.484 por 100 mil habitantes), República Checa (1.010), Irlanda (926) e Suécia (564).

Na última segunda-feira (25), a Comissão Europeia recomendou que todas as zonas com mais de 500 casos por 100 mil habitantes sejam isoladas. Mais de 85% do território espanhol corresponde a esse critério –e em sua quase totalidade já leva meses em confinamento perimetral, ou seja, nada de entrar ou sair se não for estritamente essencial.

Por enquanto, há zero casos notificados da nova variante brasileira em território espanhol, contra um da cepa sul-africana e 350 da cepa britânica. Espera-se a chegada massiva desta última a partir de meados de fevereiro ou princípios de março –o que significa que as medidas restritivas poderão previsivelmente prorrogar-se por pelo menos mais uns dois meses (falô, jovem!!).

O ritmo de vacinação, que começou bem, arrefeceu significativamente na última semana, com a redução do fornecimento comunitário dos lotes da AstraZeneca/Oxford.

O consórcio alega um problema nas fábricas europeias; por outro lado, a Comissão Europeia insiste na ideia de impedir a exportação de vacinas produzidas pelo grupo na Europa para fora do continente enquanto o fornecimento interno não se normalizar.

Pra completar a cereza nos buñuelos de viento, há uma semana temos uma nova ministra da Saúde: a canária Carolina Darias, que deixou a pasta de Política Territorial e Função Pública para assumir la bucha do que vem por aí.

Salvador Illa, o titular anterior, deixa o cargo em plena “tercera ola” para concorrer às eleições locais na Catalunha em fevereiro, com uma plataforma enfocada na ideia de reconstrução e a bênça do premiê Pedro Sánchez (yes, e a oposição, que não se bica, já se juntou e criou uma cantilena: “todos contra Illa”).

***

Outro dia, limpando a fruteira, dei de cara com uma abóbora em pleno e glorioso processo de putrefação (shame on me, foi uma exceção na minha vidinha de frutinha lover –não sei se ces já sabiam, mas abóbora, pasme e dance, é fruto).

Maravilhada, tirei muitas, muitas fotos, algumas das quais ora reproduzo. Sou fascinada por fungos e putrefações orgânicas (claro, Susana, ou cê curte também putrefações plásticas? hmmmmm). Essa tara volátil vem de infância, quando cultivei os primeiros bichinhos em pote de vidro com papaya no lavabo de casa.

Estrela glaciar-estetoscônica kubrickovska jiraiana teta plus 81A58-2021 (Susana Bragatto / Folhapress)

 

Essa é nossa coruja espanta-pombas, que costuma fazer amizade cas perseguida (Susana Bragatto / Folhapress)

Essa beleza toda (“parece foto de satélite”, comentou alguém), tão transitória, profundamente vida. Jovens, jovens, uni-vos-nos, antes que viremos abóbora…

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O voo das pombas, ou: feliz 2042 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/12/23/o-voo-das-pombas-ou-feliz-2042/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/12/23/o-voo-das-pombas-ou-feliz-2042/#respond Thu, 24 Dec 2020 00:00:21 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Pombas-do-paraíso-imaginado-Aniol-Yauci-baixa-res-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=432 Barcelona – Dia #283 – Quinta, 24 de dezembro. Cena: “Ouve esse silêncio”, ele diz. “É Natal!”

Segundona braba de eflúvios natalinos. Eis que me encontro no supermercado pensando se compro aquele kombucha de raspberry pra me sentir saudável com estilê quando avisto um casal de pombas ciscando tranquilamente entre uns pacotes de farinha bio, nozes bio, bio-bio.

Decido lançar um grito de alarme, que sai meio assim: “POMBAAAAS! Eiii, alguéeeeem! Tem POMBAS no corredor de produtos orgânicooooo-ooowws!”.

Impressionante. É hora do rush, mas ninguém nem tchum. Apenas as duas supracitadas meliantes, assustadas com minha ceninha humanoide, voam, alcançam as luzes ramificadas pelo imenso teto metálico do recinto, fazem um bailinho bonito no ar e pousam novamente entre os itens bio de sua preferência.

Não estou na roça. It’s Barcelona e este é um dos maiores supermercados da cidade (Carrefinhour, you know –daqueles que vendem sushi, bicicleta e jamones de Natal).

(((O que me faz lembrar de Javier Bardem cortando jamón sobre o capô do carro em “Jamón, Jamón”:)))

 

Olho à volta. Ninguém parece se preocupar com as pombas, ninguém dá mostras de haver visto as ditas. Fascinante.

Fico lá segurando o kombucha por um instante enquanto famílias, casais, jovens, velhos, aliens e titanoboas circulam ao meu redor com expressões compenetradíssimas, os braços e carrinhos cheios de itens natalinos e, talvez, uma promoção de 3×2 meias de presente pra alguém.

Cantarolo baixinho: el tiempo não paaa-a-a-ara…

 

***

Esta semana, o que já era duro piorou. Os casos de Covid estão crescendo, todo mundo nazoropa tá com medo dos britânicos e é quase Natal. Vaya mistura explosiva de contradesejos.

De última hora, na quinta (17), o governo decidiu reduzir ainda mais o horário de funcionamento dos bares e restaurantes.

Até então, os estabelecimentos locais já estavam estertorando à base de 30% da lotação máxima, mesa de até 4 pessoas (ok, falô) e toque de recolher às 22h. Desde esta segunda (21), passaram a só poder abrir 4 horas ao dia, pela manhã e pro almoço.

Com isso, todas as reservas de ceias de Natal e Ano Novo foram repentinamente canceladas. Barcelona é terra de muitos negócios familiares. Produtos caros e especiais estão perecendo nas geladeiras, e os donos dos bares e restaurantes têm saído às ruas para protestar. Quem paga a conta? Quem ajuda? O que virá?

E não para por aí. Agora mesmo, não podemos deixar a comarca, a cidade, o estado de residência, a não ser por motivos justificáveis. E pensar em ir mais além da fronteira nacional é embarcar num phD coronavirístico em que o currículo mínimo pode mudar todos.os.dias.

Eu em verdade vos digo: fico em casa o máximo possível. Uso a máscara masterblaster pra pegar condução. E evito ao máximo: faço tudo de bike.

Meu maior pecado em 2020 foi ter pego um voo pra Ibiza no verão, durante o breve idílio pós-primeira onda da pandemia. O avião tava vazio, Ibiza (pasme) tava vazia. Foi legal, foi tenso.

Quando eu comecei a escrever o Diário de Confinamento na Folha, em março, há exatos 283 dias, creio que todos pensávamos que a coisa ia durar alguns meses.

E, quando terminei os 100 dias de textos, me despedi contente: tamo quase. Isso foi há exatos 183 dias. Agora, segundo algumas manchetes, estaríamos nos preparando para uma terceira onda. A vacina começa a ser distribuída na Espanha nas últimas horas de 2020, no dia 27 de dezembro, priorizando profissionais de saúde e grupos de risco. Vamuvê.

Mas é Natal, gente. E a fofolização pollyanística-positivista do cotidiano está por toda parte, como um manifesto contrário ao desânimo. Vamos então vestir nossos melhores pijamas e clicar no convite do zoom de família com uma sidra de Astúrias na mão. Celebremus.

 

As vitrines festivas aqui seguem coalhadas da coronamoda de homewear, comfortwear, vamotodomundoviverdepijamawear. Compremos roupas fofiñas, pois. Nunca o presente clássico da vó fez tanto sentido. Celebremus, celebremus.

Fotos de Instagram mostram gente rrrrica/enfeitada/rosada em casa, com cara de gozo ou felicidade margarina, entre móveis novos da Ikea e paredes caiadas de branco pra dar aquele astral no claustro. 2020 nas redes sociais tem tanto filtro e producción que me olho no espelho e digo: joder, é só isso? Quedê os corazones flutuando sobre minha cabeça?

Como se todos fôssemos profissionais liberais felizes da vida com empregos bem pagos e firmefortes durante a pandemia, vivendo em castelos de mostruário da Casa Vogue, sem deprê, sem histeria íntima, sem saco cheio porque, né, POSITIVIDADE, GENTE.

As propagandas de peru, jamón, celular, panetone, caldo ki-norr mostram famílias reunidas, aconchegadas entre vapores de panelas e pratos quentinhos. Sim, eu sou véia e algo queixosa, mas ainda vejo manteiga no pão e acho que a vida é pra sempre.

Javier Bardem no filme “Jamón, Jamón”, de Bigas Luna, entre jamones jamones, só porque sí (Divulgação)

***

É 2042. Ano da 1347589701a cepa do vírus, aquele que há pouco mais de duas décadas começou como uma coceirinha.

E é Natal. Sempre haverá Natal. Este ano, sem peru, que os perus se extinguiram em 2025 por conta da variação 12382780 do vírus. Agora a onda é comer mini codornizes GMO, que podem ser criadas em casa.

Voltando às pombas. Naquele longínquo dezembro de 2020, eu deveria ter gritado: “FOGOO!!”. Ou: “VAI FICAR TUDO BEM, GENTE!”

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‘Melhor estocar papel higiênico outra vez’ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/09/melhor-estocar-papel-higienico-outra-vez/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/09/melhor-estocar-papel-higienico-outra-vez/#respond Fri, 09 Oct 2020 15:11:56 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/pierro-o-olho-que-olha-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=231 Ultimamente, considerando a nova onda de contágios de Covid que assola a Espanha, caí numa moda pessoal de perguntar a todo mundo o que pensa que vai acontecer adiante, corongamente speaking. Interessantes, pitorescas respostas.

Minha ginecologista, hospital público, amabilíssima, de origem colombiana, me conta que o confinamento afetou as mulheres hormonalmente, e muito, com menstruações descontroladas, fluxos alterados, cistos e miomas inéditos.

“Pode ser minha impressão, mas acho que virão mais alterações hormonais com o inverno”, diz. “O estresse impacta muito a saúde hormonal”. Alguém aí se identifica?

A senhora no mercadão diante de casa, cabelo grisalho de corte impecável, óculos de aros de tartaruga embaçando sobre a máscara: enquanto nós duas escolhemos calças de inverno vendidas por um rapaz indiano a 5 euros (vivemos na Espanha uma prolongada época de liquidações) e damos pitacos mútuos sobre estampas, ela comenta, “se a gente não sabia que ia vir tudo isso, como vamos saber o que virá?”.

Fiquei sem resposta. Isso seria o quê, reflexão neo-anti-proto-pós-fenomenológica? Muito avançado pro meu nível ticoeteco.

O indiano, entrando na conversa: “vai ser complicado, foi complicado, já tá complicado”.

Eu pensei em replicar algo na mesma linha, com melodia, ritmo e contundência esfíngica, mas, cantoira que sou, só me ocorreu cantarolar baixinho: “isso aqui, ôoooo…”.

Isso foi hoje, há minutos. Dia de sol, brisa fresca, princípio de outono.

Outro dia, no caixa de uma loja da Zara no centro de Barcelona, a funcionária pergunta: “qual é o seu código postal, senhora?”.

Me chamou de senhora, quase não quis responder, seguindo meu instinto de negação. Quando eu afinal lhe disse, perguntei por que pedia essa informação. Ela me explicou que era pra um estudo sobre o perfil de cliente que estava frequentando as lojas pós-confinamento.

Señoras y señores, tomem nota de que estamos falando da principal marca da Inditex, grupo do mogul espanhol Amancio Ortega, um dos hômi mais ricos do mundo. Mais exatamente, o quinto mais rico do planeta, segundo a Forbes, à frente do Zuckerberg.

“Y qué? Deixa ver se eu adivinho: os clientes são todos locais, nenhum turista”, repliquei. Ela faz um meneio afirmativo de cabeça e nos entreolhamos, com o olhar significativo e cúmplice de boca torcida dos que atravessamos uma quarentena prolongada e seguimos passando bombril na armadura montada no armário, à espera de novas batalhas.

O enfermeiro de um importante laboratório de análises clínicas, um rapaz jovial y alegre com gorrinho de estampa de ursinho (suponho que pra acalmar os ânimos dos “nens” (crianças, em catalão) que vêm enfiar palito no nariz pra fazer PCR), me diz: “tenho feito cada vez mais testes de Covid. Sobre o que nos espera, eu diria: melhor estocar papel higiênico outra vez”. E rimos. Fazer o quê.

Meu compañero de apartamento: “por via das dúvidas, já encomendei uns pesos e faixas elásticas pra gente não engordar no inverno”. A gente passou todos os meses de confinamento domiciliar este ano fazendo exercício de iutubi em casa. Ficamos super em forma, mas quando pudemos sair de casa de novo no verão muy rapidamente ganhamos uma barriguiña.

Um amigo catalão, advogado, meio niilista (como alguém pode ser meio niilista, Susana) e recém-recuperado de coronavírus, trabalha em um projeto de recepção de refugiados na prefeitura de Barcelona: “ora, vamos todos morrer, claro” –vaticinou.

Depois, mais convencional: “creio que a coisa vai estar complicada de novo até a primavera, com altos e baixos e semanas com mais ou menos restrições em função dos contágios… uma m****. Definitivamente, não poderemos fazer planos pra nada. Mas é falar por falar, porque não tenho ideia. Sou um enorme ignorante”, termina, algo pândego, algo sério.

E um amigo argentino, vivendo há milênios na Catalunha, lutando com sua garra e marra pra manter um pequeno bar que os amigos frequentamos pra estar e apoiar: “‘xxo’ sei lá como será, mas durante o confinamento em casa joguei fora os espelhos, e agora vivo sozinho”.

Você num tá vendo, mas ele termina a frase com um olhar de pupilas tinindo/reluzentes e um sorrisinho sábio de saca-só-essa-frase-que-genial.

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Madri entra em confinamento a partir desta sexta (02) https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/02/madri-entra-em-confinamento-a-partir-desta-sexta-02/ https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/2020/10/02/madri-entra-em-confinamento-a-partir-desta-sexta-02/#respond Fri, 02 Oct 2020 23:02:44 +0000 https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Puerta-del-Sol-Madri-por-David-Canales-@d4v1dfotos-300x215.jpg https://normalitas.blogfolha.uol.com.br/?p=198 A partir das 22h desta sexta-feira (02), Madri entrará em um confinamento parcial.

A capital espanhola e 9 municípios dos arredores se encaixam nos novos critérios para confinamento divulgados pelo governo central nesta quinta (01) com o objetivo de conter a segunda onda de contágios no país.

Basicamente, o isolamento “perimetral”, como se vem chamando aqui, será imposto a todos os municípios espanhóis onde, simultaneamente, os casos ultrapassem os 500 por 100 mil habitantes na última quinzena; pelo menos 10% dos testes de PCR sejam positivos; e mais de 35% dos leitos de UTI estejam ocupados por pacientes de Covid.

Madri responde atualmente por mais de um terço dos quase 134 mil novos casos diagnosticados no país nas últimas duas semanas, e apresenta uma taxa de 780 casos por 100 mil habitantes. Além da capital, serão confinados outros 10 municípios da Grande Madri.

DESLOCAMENTOS LIMITADOS

A Espanha é o segundo país europeu com mais casos de Covid até hoje, atrás apenas da Rússia. É seguida por França, Reino Unido e, lá atrás, a Itália, com “apenas” 317 mil casos até o dia de hoje, menos que a metade dos casos espanhóis, segundo contas do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças.

Lembrei da conversa com uma italiana de Turim outro dia. “Nós, italianos, somos super passionais e tal, mas, olha só –conseguimos sobreviver ao verão e estamos bem”. Bom pra vocês, amici.

O novo confinamento não é domiciliar, como durante o estado de alarme, mas seletivo: somente permitirá deslocamentos entre municípios por motivos de trabalho, saúde ou estudos. Por qualquer outro motivo, somente dentro da própria cidade de residência, e seguindo as regras sanitárias já vigentes, como o uso obrigatório da máscara.

De resto, reuniões, só de até 6 pessoas, como já valia em Madri desde princípios de setembro; e comércio, bares e restaurantes voltarão a fechar entre 22 e 23h, com lotação máxima de 50%.

Homem é submetido a teste PCR, rodeado de enfermeiros e assistentes
Teste de Covid num centro cultural do bairro popular de Vallecas, um dos mais afetados pela pandemia e submetido a isolamento parcial em setembro de 2020 (Sergio Perez / Reuters)

No papel, muy bonito, mas os problemas e dúvidas são muitos, especialmente em uma cidade populosa como Madri, capital econômica da Espanha e ponto de convergência ou passagem de inúmeras rotas aéreas e terrestres europeias.

Por exemplo, como controlar a entrada e saída da população flutuante? E como aplicar sanções aos desobedientes?

As medidas recém-publicadas serão analisadas pelo Tribunal Superior de Justiça de Madri, o qual estabelecerá as multas em caso de descumprimento. Os valores poderão oscilar entre 600 e 600 mil euros.

Outra grande dúvida é o que fazer com os turistas, tanto nacionais quanto estrangeiros. Até este momento não existe posicionamento oficial a respeito.

Um cidadão espanhol de um município confinado não pode visitar Granada ou Barcelona, mas pode pegar o avião pra ir passear em Paris?

Ou: um turista estrangeiro poderá entrar em Madri? A julgar pelas novas regras, a resposta seria não. Mas, como agora mesmo as fronteiras espanholas não estão fechadas, tecnicamente não se pode impedir a entrada de visitantes.

DIVERGÊNCIAS

Além de dúvidas, as novas medidas, junto com a situação crítica do país, vêm servindo de lenha para atritos políticos.

A polêmica mais pitoresca da semana aconteceu durante sessão do plenário nesta última quinta (01), quando Madri foi chamada pela oposição de “Chernobyl da Europa”, em alusão ao crescimento exponencial de contágios. O caso gerou reações na internet e até um comentário do criador da série “Chernobyl”, da HBO.

Desde o início da pandemia, em março, os embates entre Madri e governo central vêm acontecendo na mesma nota: enquanto o primeiro defende uma abertura econômica imediata, com medidas amenas de segurança sanitária, a política do governo central vem priorizando a saúde.

“Madri é especial porque a saúde de Madri é a saúde da Espanha”, resumiu o ministro da Saúde, Salvador Illa, em entrevista coletiva na última quarta-feira (30).

No mesmo dia, Ayuso declarou: “estamos nos arruinando, temos que buscar fórmulas intermediárias criativas. Madri não pode se confinar”.

Mas a definição de “fórmulas intermediárias” também é complicada. Vide as medidas restritivas impostas há duas semanas pelo governo local a 45 áreas sanitárias de Madri –não coincidentemente, foram afetadas as zonas mais pobres, o que gerou protestos da população.

Com o novo confinamento imposto pelo governo central, deixam de valer a partir de hoje as restrições por áreas sanitárias.

O governo de Ayuso apresentou um recurso contra a nova resolução do governo central. Até sair uma decisão judicial, porém, acatará as medidas.

 

To be continued…..

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