Espanha registra aumento de mais de 200% nos casos de Covid em agosto

Bar de pueblo, chazinho numa segunda qualquer.

Na parede ao meu lado, cintilante e gorduroso debaixo de um lustre de parede em forma de flor, um retrato autografado de Messi, um dos temas ‘calientes’ dos noticiários espanhóis por sua possível saída do Barça.

A Espanha fecha o mês de agosto, pico do verão, com quase 5 vezes mais casos de coronavírus do que em julho, primeiro mês do chamado “desconfinamento”. É o país europeu com a maior taxa relativa de contágios, 205,53 casos por cada 100 mil habitantes, e o segundo maior em cifras absolutas, atrás apenas da Rússia.

Em todo o território, há 2.400 surtos identificados, o dobro de apenas 10 dias atrás. Com mais de 174 mil casos registrados no último mês, o país se prepara para um setembro crítico.

Além disso, em apenas 12 dias, intervalo entre os dois últimos relatórios oficiais do Ministério da Saúde, a ocupação de leitos de UTI por pacientes positivos sofreu um aumento de 46% em todo o país. As regiões mais afetadas são Aragón, Ilhas Baleares e Madri.

Um desses leitos está ocupado pelo irmão do meu colega de apartamento. Relativamente jovem, pré-diabético e obeso, está em estado grave, em coma induzido, há alguns dias.

“Estamos detectando quase o mesmo número de casos que em finais de março e princípio de abril [auge da pandemia espanhola]”, argumentou esta semana Fernando Simón, porta-voz da Saúde. “Se nossa capacidade agora fosse a mesma de então, provavelmente estaríamos detectando uma sétima ou oitava parte do que detectamos agora”, disse. Ah-tá.

Cadeiras vazias em sala de espera de hospital com cartazes alternados com os dizeres "não"
Cadeiras na sala de espera do Hospital Sant Pau, em Barcelona, durante a pandemia (Susana Bragatto / Folhapress)

Uma das situações mais dramáticas está em Madri, onde os casos se multiplicaram por 11 no último mês e onde foram registradas 42% das mortes por coronavírus em todo o país nas últimas duas semanas.

A preocupação se amplifica com a aproximação do outono e a volta às aulas. Entre as propostas de entidades do setor de saúde para combater o crescimento exponencial de contágios e prevenir o colapso do sistema, há o aumento de contratações de profissionais de saúde e de rastreadores.

Quando dei positivo em coronavírus, em junho, imediatamente me quarentenei e repassei ao centro de saúde uma lista completa com as (poucas, pero buenas) pessoas com quem tinha tido contato nos dias anteriores.

Pergunta se alguém telefonou pra alguma delas. Só eu, pedindo pelamor, #fiquememcasa.

Quase meio ano depois do primeiro decreto do estado de emergência na Espanha, eis que começa a brotar consistentemente um sentimento de ratinho cansado na gaiola, daqueles correndo nhenhenhe numa roda.

Embora a curva de contágios esteja inequivocamente ascendente, por enquanto o grau de letalidade é muito mais baixo, com predomínio de assintomáticos e contágios entre os mais jovens. Em torno de 45% dos diagnosticados não apresentam sintomas. Os menores de 40 anos correspondem a metade dos casos, e os maiores de 70, a 10%.

Aqui em casa, o clima, obviamente, não está pra festa. Em uma espécie de compensação semiconsciente de oscilações cósmicas, desde que o irmão do meu compi foi hospitalizado, as plantas em nosso terraço estão mais viçosas. Estamos cuidando bem do que está ao nosso alcance. Os seis vasos com aloe vera, mais os canteiros com kalanchoe, a hera e a nossa mudinha de árvore da fortuna agradecem.

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