Shows ‘laboratório’ em Barcelona dão pistas de como será a balada 2021

(Reprodução)
Susana Bragatto

Sim, sim, eu me lembro (mais ou menos) bem: o techno e os estrobos verdes, as milhárdias de cabeças balouçantes, os patolas e empastillados (pastilla = pílula) me pegando pela cintura enquanto eu meio que dançava, meio que me perguntava cadê a pemba do meu amigo.

Essa foi minha última experiência na sala Apolo, uma das boates-e-casas de shows mais tradicionais de Barcelona, antes do confinamento que calou o ócio noturno e botou todo mundo pra bailar na sala de casa, exatamente um ano atrás.

Fast and furious para 12 de dezembro passado. Nesse dia, excepcionalmente, depois de um ano duríssimo de portas fechadas, a Apolo abriu –mas não para uma balada normal e, sim, como parte de um estudo conduzido por investigadores do hospital Can Ruti, com apoio do Primavera Sound (empresa de eventos que organiza um dos festivais mais famousous do mundow).

Na programação extraordinária, dois DJs e dois shows de artistas locais. Estávamos então caminhando para a terceira onda da pandemia, espremidos entre liberalidades pré-natalinas e (muitas) restrições coletivas.

No ambiente principal da Apolo, com capacidade de 1.300 pessoas em tempos normais, pouco menos de 500 foram admitidas, todas e cada uma com máscaras homologadas e testes de antígenos negativos feitos horas antes.

Os mesmos testes foram realizados em outros 500 voluntários, que ficaram de fora da festa como grupo controle.

O objetivo do estudo era contemplar uma ampla faixa etária –havia gente de 18 a 60 anos –, sem antecedentes de doenças importantes, sem convívio com pessoas de risco, e que, claro, não houvesse pego o vírus nos últimos 14 dias.

Deixaram o povo se divertir sem distanciamento social, mas com muito álcool em gel à disposição e áreas restritas para fumantes e bebedores.

Oito dias mais tarde, os mil voluntários do estudo se submeteram a uma PCR.

E os resultados surpreenderam: no grupo que havia participado da festa, ninguém-aka-zero-pessoas contraiu o vírus. E, no grupo controle, apenas 3 pessoas deram positivo.

Ou seja: estatisticamente, concluíram, não se poderia afirmar que há mais risco dentro de um evento cultural do que fora, na vida merrma.

O setor comemorou, mas pouco aconteceu em seguida, porque nos engoliu a supracitada Terceira Onda Pós-Natal e eis que estamos aqui de novo tirando o cabelo da cara e pensando se fechamos tudo de novo ou pegamos uma praia.

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O segundo passo dessa espécie de Laboratório para A Vida Cultural Pós-Covid acontecerá no próximo dia 27 de março, quando a banda-queridiña-dos-indies-catalães Love of Lesbian fará um show para 5.000 pessoas no Palau Sant Jordi, outra casa de concertos muy famosa (e, como as demais, assaz coronacombalida) da cidade.

De novo, os participantes farão testes de antígenos e haverá medidas de segurança específicas para o local. Todos terão que utilizar máscaras homologadas, e o público será distribuído por quatro zonas sem interação entre si.

A iniciativa, batizada de “Festivais para a Cultura Segura”, tem pontos de contato com outras semelhantes que vêm surgindo no cenário europeu.

Aqui, nasceu da união dos festivais e casas de shows mais importantes da região, e tem o apoio da prefeitura de Barcelona. A cidade é uma meca cultural internacional, e o setor sofre cá como sofre aí do outro lado dozatlântico.

A sonhada ideia por trás do projeto é, como expressou um dos investigadores clínicos envolvidos, provar que “as atividades culturais podem ser seguras e não são acontecimentos de ‘super’ transmissão”.

Por aqui, vou pensando no título do próximo disco do Love of Lesbian: Viaje épico hacia la nada*. Até agora, menos de 5% dos espanhóis tomaram as duas doses da vacina, e 75% dos hotéis de Barcelona permanecem fechados. Sou positiva, somos. Mas, sei lá, 2021 segue impregnado de 2020 feelings. Né non?

*Jornada Épica para Lugar Nenhum

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