Com surto entre jovens, Espanha suspende obrigatoriedade da máscara nas ruas

A partir deste sábado 26, deixa de ser obrigatório o uso de máscara nas ruas na Espanha. A medida entrou em vigor em junho de 2020, há exatamente um ano. Ainda será preciso usá-la em ambientes fechados e aglomerações onde não seja possível manter a distância de 1,5 metros entre os circunstantes.

A medida chega num momento em que a vacinação nacional atinge recordes –dentro de alguns dias, o país receberá 6 milhões de doses, uma quantia inédita –e as mortes por Covid caem rotundamente (na Catalunha, nas últimas 24 horas, por exemplo, registrou-se um único falecimento).

Seria um sinal dos tempos, ou melhor, do fim da pandemia? Nononono, como diria a Amy CasadeVinho.

Talvez como artifício do destino pra nos lembrar que é preciso caminhar nessa vida pós-covídica com cuidado, um recente surto de coronavírus entre jovens espanhóis tem contrastado com as notícias ‘celebratórias’ vacinísticas.

Até agora, foram identificados cerca de 400 casos positivos e isoladas por volta de 2 mil pessoas. Tudo por causa de uma série de viagens de fim de curso (equivalente ao fim do Ensino Médio no Brasil) entre 12 e 20 de junho à ilha balear-turística de Mallorca, onde a molecada de umas 30 escolas espanholas botou para quebraire em festinhas.

Fila para teste PCR em clínica de Barcelona, junho de 2021 (Susana Bragatto / Folhapress)

Ou, como define a diretora geral de Saúde Pública da Comunidade de Madri, Elena Andradas, em “um programa de atividades, com festivais, bastante intenso”.

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Eu ainda estou esperando a minha vacina. Passei por Covid há exatamente um ano, em junho de 2020, e me convocaram pra tomar uma dose no último dia 22 –mas não deu certo.

Nesse dia, cheguei no centro cívico adaptado pra campanha de vacinação e me encaminharam para um amplo salão decorado com cordões de frufrus brilhantes e um globo de espelhos pendendo do teto.

Só não parecia que ia rolar um baile da terceira idade porque, em lugar de banda e pista de dança, havia cadeiras dispostas segundo as distâncias mínimas de segurança e mesas onde enfermeiros manipulavam caixas de injeções.

Do lado oposto de onde sentei, seres humanos com caras de poucos amigos seguravam o braço e olhavam o vazio –é preciso estar sob vigilância por 15 minutos antes de ser liberado, pro caso de haver alguma reação à vacina.

Chega a minha vez. A enfermeira, sem me olhar na cara, pergunta se tive Covid. Me surpreendo. “Sim, faz mais de um ano”, atenuo. Ela finalmente ergue seus olhos verde-vítreos-ausentes-cansados pra me dizer: “então não pode tomar esta vacina da Janssen. Tem que ser a da Pfizer”.

Ora, se o sistema de saúde controla tudo de nossas vidas covídicas, por que não cruzou dados pra me dar a vacina correta? Yes, gastemos tempo e dinheiro público com uma “tontería” dessas, penso. Metade da fila diante de mim não pôde tomar a vacina pelo mesmo motivo.

Campanha de vacinação em Barcelona, junho de 2021. E meu pé (Susana Bragatto / Folhapress)

Segue-se outra fila, ao final da qual um recepcionista de olhar mais cansado ainda me diz: não posso marcar nova vacina pra você. Volta na segunda.

“Ah: e nem tente ligar pro posto de saúde”, acrescentou. “As linhas estão congestionadíssimas”.

Era véspera de feriado, San Juan, ponte. Barcelona começava a esvaziar-se, população viajando. Eu devolvo o olhar cansado pro recepcionista. Queria mandar sifudê, mas what’s the use.

Depois de um périplo adicional, consegui marcar minha dose da Pfizer para o próximo dia 2 de julho.

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Deixar de usar a máscara na rua será esquisito. Não tô preparada pra esse momento e seguirei usando a dita porque soy muy loca, ou não.

E nem todos por aqui estão celebrando a medida. O presidente da região de Andaluzia, Juanma Moreno, deu voz à preocupação de alguns setores da sociedade espanhola, inclusive epidemiologistas, definindo a suspensão da obrigatoriedade da máscara nas vias públicas como “precipitada”, gerando “falsa sensação de segurança”.

“Nos preocupam os contágios e surtos recentes, porque há casos da variante Delta em Gibraltar, perto de Andaluzia”, disse. “Vimos como Portugal ou Israel (…) voltaram a impor o uso [da máscara]. Sigo recomendando que os cidadãos a utilizem”.

To be continued // Continuará (como se diz em terras españolas) // Continua………….

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