Por trás do Messianismo
Enquanto choram na Espanha por conta da saída do Messi do Barcelona, anunciada nesta quinta-feira (5), eu choro aqui no meu sofazinho por uma separação.
Daquelas, sabe? Que deixam a cara inchada de choro e matam o amanhã. Ainda que até amanhã.
Mas voltando ao Messi.
Os espanhóis e, notadamente, os “culés” (torcedores do FC Barcelona) estão tristíssimos com a saída do ídolo, ainda sem novo destino certo.
O motivo principal seriam “obstáculos econômicos e estruturais”, embora outros desgastes ao longo dos últimos tempos, como o já famoso quase-adeus do burofax, também tenham cumprido seu papel. Tudo é louro do Messi, tudo é culpa do Messi, OJogadorMaisFodásticoDoMundo. São quase 18 anos de clube. Um longo casamento.
Joan Laporta, presidente atual do FC Barcelona, apareceu nas manchetes de hoje afirmando que “O Barça está acima do Messi, e não vamos hipotecá-lo por ninguém”.
Mas o povo chora. Bancas de jornal amanheceram com a estampa do argentino em todas as capas; na tevê, breves entrevistas com seres de todas as nacionalidades e idades nas ruas de Barcelona repetem o invariável “fica, Messi”, e súplicas semelhantes.
(me pergunto por que não me entrevistaram, pra que eu pudesse dizer: “que se dane. Alguém me dá um trocado do salário de US$ 126 milhões que ele recebeu em 2020? Tô precisando de um Maserati”. E: “Neymaaaaaaaar, eôÔô”, só pra dar uma balançadinha)
Um argentino que vive em Barcelona (e há muitos) choraminga no microfone: eu só estava aqui por causa do Messi! Pra onde ele for, eu vou! E decreta: o turismo em Barcelona sem o Messi já era!!
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As imagens de Messi-Messi-Messi nos bombardeiam em meio às transmissões dos jogos olímpicos. O canal espanhol mostra uma entrevista com o carateca nativo que levou prata nos jogos olímpicos (a espanhola Sandra Sánchez levou o ouro, batendo a favorita japonesa Kiyou Shimizu).
Suado, ele passa a mão no topete, olha de soslaio pra câmera, sabe que é gato. Vale pontos na hora de conseguir sponsors.
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É evidente que a galiña dos ovos de ouro dos esportes hype hoje em dia irremediavelmente passa pelo merchandising centrado em figuras de idolatria.
Especialistas em negócios e mercadotecnia do esporte estão agora mesmo analisando o impacto econômico que poderá ter a saída do Messi para o Barça. Não será pouco.
O FC Barcelona é considerado o segundo clube mais valioso do mundo, empatado com o Real Madrid. Estima-se o valor de cada uma dessas marcas espanholas em US$ 1,4 bilhão, só superadas pelo Manchester, o clube mais frapfrap do mundo, avaliado em US$ 1,7 bilhão.
Os dois principais patrocinadores do Barça, Nike e Rakuten, estão devidamente de cabelo em pé com a notícia da saída do craque. Tinham acordos e campanhas já acertadas com o FCB e Messi.
A marca do FC Barcelona, obviamente, amparava-se muito no merchandising associado ao jogador, assim como em contratos publicitários e direitos de transmissão televisiva. Perderá, seguramente.
Estima-se que a marca Messi rende pelo menos o dobro do que rende qualquer outro jogador do time. Mais de metade do que se vende em roupas e acessórios oficiais está associada com o jogador, e mais da metade da bilheteria de partidas está vinculada ao craque.
Uma única camiseta da Liga com o número 10 no site oficial do clube pode chegar a custar 160 euros (ou quase R$ 1.000).
Um dos clássicos passeios turísticos em Barcelona era ver uma partida no Camp Nou com o Messi. O argentino virou um dos ícones da cidade, junto com os dragões de Gaudí. Agora… no more. Ainda que até amanhã. Lágrimas, lágrimas.
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